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LOCAIS DE TRATAMENTO

 

Em 1918, Porto Alegre não contava com postos de saúde e hospitais suficientes para tratar o grande número de pessoas atingidas pela epidemia. À época, o serviço de atenção à saúde disponível na Capital resumia-se a cinco instituições: Santa Casa de Misericórdia, Hospital Beneficência Portuguesa, Hospital São Pedro, Hospital da Brigada Militar e Hospital de Isolamento São José. Para a remoção dos doentes, a cidade contava apenas com dois carros mecânicos e seis carros de tração animal.

A Gripe Espanhola uniu a Faculdade de Medicina de Porto Alegre (atual UFRGS) e a Escola Médico Cirúrgica de Porto Alegre em uma luta histórica contra a epidemia, com médicos reconhecidos e doutorandos que se desdobravam para atender à população doente.

Para ampliar o espaço para os atendimentos, duas escolas foram adaptadas para receber os enfermos: Escola Souza Lobo e Escola Fernando Gomes.

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  SOCIEDADE PORTUGUESA DE BENEFICÊNCIA DE PORTO ALEGRE

Em 1854, na sala de sessões da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, foi fundada a Sociedade Portuguesa de Beneficência de Porto Alegre. Foi a primeira sociedade de socorros mútuos criada na Província do Rio Grande de São Pedro.

Foi na administração, de Domingos José Lopes, então Presidente da Sociedade, em 1858, que foi adquirida na antiga Rua da Figueira, hoje Cel. Genuíno. A casa serviu de local de atendimento e tratamento para os sócios. A partir de 1861 tornou-se iminente a construção de um prédio maior, devido, principalmente, ao aumento no número de sócios. Com recursos provenientes dos associados, legados e empréstimos, tornou-se possível a construção de um local adequado para o atendimento dos sócios. Assim, em 1867, foi lançada a pedra fundamental e em 1870 é inaugurado o Hospital Beneficência Portuguesa de Porto Alegre

O Hospital Beneficência Portuguesa também foi espaço de tratamento e organizou-se para prestar assistência aos seus sócios e ampliar o atendimento ao restante da comunidade. Neste local foram atendidos 156 casos de gripe epidêmica e 15 de influenza no ano de 1918[1], durante a segunda quinzena de outubro e no mês de novembro.

 

[1] Relatório da Sociedade Portuguesa de Beneficência de Porto Alegre, Ano 1918, Quadro de Morbilidade, anexo 16, p.42.

Acervo Digital MUHM

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Acervo Digital MUHM

SERVIÇO DE ASSISTÊNCIA PÚBLICA MUNICIPAL

A Diretoria de Higiene e Assistência Pública é uma das seções componentes da Secretaria da Intendência Municipal, criada no final do século XIX. No entanto, na regulamentação da Secretaria da Intendência Municipal, que acontece em 1896, a Assistência Pública desaparece, permanecendo a Higiene, apenas, junto com a Polícia.

Em 1898, é criado o serviço de Assistência Pública Municipal, subordinado ao Intendente José Montaury de Aguiar Leitão.

 O serviço possuía, nas subintendências de alguns distritos, ambulâncias a cargo de ‘agentes enfermeiros’ que prestavam socorros à população nas vias públicas e em domicílios. Também possuía equipamentos para transporte de enfermos e para remoção de cadáveres. Havia também um necrotério, e o serviço fazia inumações de indigentes e pobres sem recursos para tanto. Ainda, segundo Janete Abrão, a Diretoria de Higiene do Estado e a Assistência Pública Municipal dispunham para seus trabalhos: “dois auto-ambulâncias (um Ford e outro Humber) e seis carros de tração animal para conduzir os enfermos” (p.56).

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HOSPITAL DE ISOLAMENTO SÃO JOSÉ

Localizado na antiga Estrada do Mato Grosso, atual Avenida Bento Gonçalves, o hospital de Isolamento no Arraial São José foi construído num terreno adquirido pelo Governo do Estado, em 1908, com a função de “isolar uma gama muito variada de indivíduos, desde aqueles acometidos por doenças contagiosas até pobres que perambulavam pela cidade” (p. 77 – livro Instituições). Hoje sedia o Hospital Sanatório Partenon.

    

A partir de 1909, com a construção do Hospital de Isolamento São José, seu espaço de tratamento “foi sendo utilizado pelo governo estadual para incorporar progressivamente novos serviços de saúde” (p.135).

    

Quando, em 1918, a epidemia da gripe espanhola, chegou à capital e atingiu a população de forma devastadora, o Hospital de Isolamento foi um dos locais de tratamento. No entanto, foi necessário ampliar seu espaço de atendimento.

 

O hospital contava com seis pavilhões, sendo um pavilhão de alvenaria, que fora construído entre 1908 e 1909, e, cinco pavilhões, em madeira, assim distribuídos “1 era para hospitalizar os homens, 1 para as mulheres, 1 para o guarda e a família, 1 para a cozinha e dispensa, 1 para lavanderia e banheiros e 1 para o necrotério” (Relatório da Secretaria do Interior, apresentado ao Presidente do Estado do RS, 1918, p.19).          

     

Entre os dias 19 e 23 de outubro de 1918 foram recolhidos para tratamento 21 doentes (p. 136).

Acervo Digital MUHM

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HOSPITAL DA BRIGADA MILITAR

Durante o Período Imperial, o Estado firmou um convênio com a Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, para que os componentes da Brigada Militar fossem tratados nas enfermarias dessa Instituição. Entretanto, a partir de 1892, as instalações não ofereciam condições ideais para atender as demandas. Em consequência, em janeiro de 1907, foi criada a Enfermaria Militar, também chamada de Enfermaria do Cristal, na Ponta do Dyonísio, local afastado do perímetro urbano.  Em 4 de agosto de 1911, a Enfermaria do Cristal foi transformada no Hospital da Brigada Militar, destinado ao atendimento exclusivo da corporação. Conforme contrato estabelecido, as Irmãs da Penitência e da Caridade da Ordem Terceira de São Francisco de Heythuizem eram responsáveis pelo cotidiano hospitalar. 

        

Em 1918, no edifício em que estava alojado o 1º Batalhão da Brigada Militar, fora instalado um hospital para tratamento dos doentes da gripe espanhola. Nesse local já havia 187 leitos. (Correio do Povo, 31/10).

Fonte: Álbum Comemorativo do 30º Aniversário de sua creação da Brigada Militar do Rio Grande do Sul 1892-1922. Officinas gráficas da Livraria Americana – Porto Alegre, 1922.

Acervo do Museu da Brigada Militar do Rio Grande do Sul.

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ESCOLA FERNANDO GOMES

A Escola Fernando Gomes localizava-se na Rua Duque de Caxias, antiga Rua da Igreja, no centro de Porto Alegre/RS. O projeto do prédio da instituição foi iniciado em 1913, de autoria do engenheiro Affonso Hébert, chefe da seção da Secretaria de Obras Públicas do Governo do Estado do Rio Grande do Sul. Seu edifício foi adaptado para receber enfermos em novembro de 1918. (Correio do Povo, 31/10).

Acervo Digital MUHM

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ESCOLA SOUZA LOBO

A Escola Estadual de Ensino Fundamental Souza Lobo, o antigo “Colégio Elementar Souza Lobo”, também foi outro dos locais adaptados para tratar os convalescentes da Gripe espanhola em Porto Alegre, no ano de 1918. Localizado na Av. Bahia, 948, Bairro São Geraldo.

A instituição foi fundada pelo decreto n. 1.917, de janeiro de 1913. O nome é uma homenagem ao professor José Theodoro de Souza Lobo (1846- 1913).  Em 12 de março de 1914, foi instalado em um prédio localizado na Avenida Bahia, no arraial de São João, atual bairro São Geraldo. Passou a se chamar Grupo Escolar Souza Lobo a partir de 1939. Em 1976, passou a se denominar Escola de Ensino Fundamental de 1º Grau e permanece no mesmo endereço e atendendo a alunos do ensino fundamental. No entanto, em 1969, o antigo prédio foi demolido para dar lugar a um complexo escolar.

A escola era formada por quatro edificações gêmeas, com um pavimento e porão, unidos por corredores. Construídas em alvenaria rebocada, telhados de duas águas, frontão e aberturas seriadas. O acesso dava-se por duas escadarias entre as duas primeiras edificações. Uma espécie de passarela em madeira unia os dois prédios centrais. (Bastos, Ermel, 2013 p, 149).

Acervo Digital MUHM

ESCOLA MÉDICO CIRÚRGICA DE PORTO ALEGRE

A Escola Médico-Cirúrgica de Porto Alegre, criada em fevereiro de 1915, surgiu como um desdobramento da Faculdade de Medicina Homeopática do Rio Grande do Sul, criada em 1914.

 

Durante o período em que funcionou, sofreu resistência por parte de outras instituições médicas como a própria Faculdade de Medicina de Porto Alegre e a Santa Casa da Misericórdia de Porto Alegre, tendo dificuldades para conseguir, desta última, autorização para utilizar suas enfermarias nos estudos práticos.

Mantida por verbas regulares do Município e do Estado, a instituição destacou-se, na época da pandemia da Gripe Espanhola em 1918, pela assistência prestada à população, organizando um pronto-socorro em sua sede.

 

Em 1932, por ocasião da regulamentação do exercício da medicina e profissões afins, a Escola foi fechada após a avaliação de uma comissão que considerou não haver as condições necessárias exigidas para seu funcionamento.  

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FACULDADE DE MEDICINA DE PORTO ALEGRE

Em 25 de julho de 1898, com a união dos cursos de Farmácia e Partos, foi fundada a Faculdade de Medicina de Porto Alegre, a terceira do gênero no país. Foi a terceira escola médica do país e a primeira criada no período republicano. Entre os fundadores da Faculdade, destacamos Dr. Protásio Alves, Cristiano Dr. Sarmento Leite. Em março de 1899 iniciam as aulas.

 

Durante a Gripe Espanhola, médicos professores e alunos, auxiliaram no atendimento à população 24 horas por dia nos postos criados nos quarteirões e no atendimento em casa.

Primeiro prédio da Faculdade de Medicina na Rua da Ladeira.
Fonte: HASSEN, Maria de Nazareth Agra, RIGATTO, Mario. Fogos de bengala nos céus de Porto Alegre: A Faculdade de Medicina faz 100 anos. Porto Alegre: Tomo Editorial, 1998.

TRAJETÓRIAS MÉDICAS

O número de pessoas procurando auxílio nos postos criados nos quarteirões aumentava a cada dia. A Gripe Espanhola não poupava ninguém, nem mesmo os médicos. Muitos padeceram com a doença e alguns perderam suas vidas em plena batalha contra ela. Conheça algumas trajetórias médicas que atuaram frente a essa epidemia.

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Escultura “A representação do médico”

Doador: Carlos Peterson

O QUE APRENDEMOS

COM A GRIPE?

 

O maior legado pode ser a importância da prevenção. É inegável que houve um grande avanço tanto na alimentação quanto nas condições sanitárias à disposição da população, o que melhora a capacidade dos pacientes de resistirem à infecção.

Hoje também temos acesso a melhores recursos, como os antibióticos, que permitem combater as infecções bacterianas, graças as pesquisas científicas, desenvolvidas por profissionais da saúde. As epidemias de gripe continuarão existindo, só podemos esperar que tenhamos aprendido as lições da pandemia para dominar outra catástrofe mundial como aquela.

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A censura às informações sobre a gripe espanhola potencializou sua proliferação em todo o mundo. Desde os seus primeiros registros, nos Estados Unidos, até a sua expansão na trincheiras da Primeira Guerra Mundial, os países envolvidos no combate controlavam as notícias sobre a epidemia para não fortalecer o inimigo e não baixar o moral de suas tropas.

Em Porto Alegre, para não alarmar a população, a Intendência de Porto Alegre proibiu a imprensa de divulgar notícias sobre a gripe espanhola. Como protesto, os jornais publicavam páginas em branco no lugar das notícias censuradas. Somente no final de outubro de 1918, com a situação descontrolada, as autoridades tentaram orientar a população para os riscos da gripe.

Oficio

 

Ilmo. Sr.

Redato do “Correio do Povo”

 

Comunico-vos, que de ordem do Governo do Estado, e a contar da presente data, ficam sujeitas à censura policial as publicações desse jornal, relativamente à “influenza espanhola”, epidemia ora reinante nesta capital e em localidades do interior do Estado.

 

De conformidade, pois, com esta determinação, visando a indispensável e recomendada tranquilidade pública, deverei submeter à apreciação desta chefia todas as noticias a respeito, e a qualquer hora do dia ou da noite.

 

Saúde e Fraternidade.

 

Ariosto Pinto

Chefe de polícia.

 

Fonte: Correio do Povo, 02 de novembro, capa.

Fotografia Daniela Pin Menegazzo, Simers.

Rodrigues Alves - Presidente da República  em 1918

A epidemia não poupou sequer o Presidente da República Rodrigues Alves. Depois de comandar o país entre 1902 e 1906, Alves fora reeleito para o cargo em março de 1918. Atingido pela gripe, porém, morreu em 16 de janeiro de 1919, e não chegou a assumir o seu segundo mandato.

Relatos do Cotidiano

Fonte: Carta de agradecimento publicada no Jornal Correio do Povo, 5 de novembro de 1918, p.5

Relatos do Cotidiano

Fonte: KOLATA, Gina. Gripe: a história da pandemia de 1918. RJ: Record, 2002. p.14-15

Relatos do Cotidiano

NAVA, Pedro. Chão de ferro: memórias. 2ª ed. RJ: Editora José Olympio, 1976. In: JUNIOR, Bruno Rodolfo Schlemper, DALL’OGLIO, Ana Claudia. A pandemia de influenza espanhola (1918) em Florianópolis, santa Catarina, Brasil. Arquivos Catarinenses de Medicina. Vol. 40, nº 3, de 2011.

Relatos do Cotidiano

Fonte: Revista Máscara, Anno I, nº 39, 9 de novembro de 1918.

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